Telef. 219 458 670 / 219 446 417 | Email: geral@jf-moscavideportela.pt

TEMA: NATAL DIGITAL?

Alguns estudos já publicados revelam que uma das consequências da pandemia que estamos a viver foi a maior digitalização da sociedade. Isto quer dizer que fazemos mais coisas atrás de um computador ou smartphone, que temos acesso a mais serviços online, que conseguimos chegar a quase tudo utilizando a tecnologia.

Trabalhamos; compramos; conversamos e até nos divertimos atrás de um ecrã.

Não nego que a tecnologia pode simplificar a nossa vida. A comodidade e rapidez de um assunto tratado através da tecnologia permite ganhar tempo, gastar menos recursos e alivia a obrigação de demoras e esperas desnecessárias. Trabalhar a partir de casa pode ser um benefício que nos poupe tempo, pode até garantir maior produtividade e é sem dúvida um modelo que deveremos pensar no futuro enquanto forma de organização social.

A tecnologia é também um meio para que as autarquias estejam mais próximas dos cidadãos. À distância de um “clique” as pessoas podem fazer-nos chegar sugestões, reclamações ou simplesmente comentários à nossa atividade diária o que contribui para um maior envolvimento dos cidadãos na comunidade e uma melhoria da capacidade dos decisores em agir em função dos problemas e das aspirações das populações.

A tecnologia é, de facto, um instrumento poderoso na comunicação e na capacidade de dar aos cidadãos e organizações meios mais cómodos, simples, baratos e rápidos de comunicar, agir ou decidir.

A tecnologia veio para ficar e devemos tê-la como aliada na qualidade de vida.

Mas há situações que por mais evolução tecnológica que possa estar disponível, não substitui ou supera a realidade.

Falo dos cheiros, dos sabores, do calor das conversas, dos sorrisos, das gargalhadas e do toque. Nós, os humanos, precisamos de tudo isto para nos sentirmos de facto humanos.

Vivemos uma época em que nos pedem enormes sacrifícios. Uma pandemia grave, atirou-nos para casa e reduziu a nossa “humanidade” a eventos muito controlados onde se respeitem todas a regras de segurança sanitária. Afastou-nos. Apesar de à distância de uma vídeo chamada – quando possível – ou de uma mensagem, filhos, pais, irmãos, famílias, amigos ou conhecidos, estão hoje retidos nas suas tradições e sacrificam a sua vontade de estar com quem gostam para garantir a segurança das pessoas de quem gostam. É um equilíbrio instável e um sacrifício que se compreende mas que cansa. Estamos comprometidos com a segurança, a nossa e daqueles que amamos, mas estamos também exaustos e perdidos num mundo em que não há espaço para o contacto físico direto.

Ser “humano” é querer tocar, estar, beijar, abraçar. Ser “HUMANO” é querer ser pleno.

Esta quadra natalícia é, por definição e tradição, o momento da reunião das famílias. É no Natal que nos sentimos pertencer a um grupo maior. No Natal somos mais família e mais “Humanos”. Há no ar uma energia calma que, apesar de nos fazer correr entre presentes, nos faz, acima de tudo, querer estar presentes. É isso no fundo o Natal: a festa que os adultos inventaram para voltarem a ser crianças e sentirem de novo o calor da casa da família, as gargalhadas dos irmãos ou até mesmo as piadas sem graça nenhuma daquele elemento da família que insistimos, apesar da falta de graça, em fazer nosso, em querer que esteja ali, naquele momento, presente.

Os sacríficos que nos pedem estão a magoar-nos. Estão a afastar-nos. Entendemos e cumprimos, mas no Natal, quadra de harmonia, queremos também esperança. Uma esperança de que este Natal, apesar da pandemia, tudo vai ficar bem e vamos estar juntos.

A “Humanidade” precisa de esperança, nos seus cientistas, nos seus líderes, nos decisores, mas também na sua forma de existir, naquelas tradições ancestrais das quais não podemos abdicar sem abdicarmos de ser “Humanos”.

Que este Natal seja novamente o momento em que sentimos o sabor dos sonhos, o cheiro das azevias, o toque suave da camisola de lã que nos aquece e das mãos que nos embalam os sonhos, que sintamos os beijos e os abraços de quem nos quer e a quem apertamos porque queremos também. Que este Natal seja “humano” o suficiente para que seja sempre Natal.

Não queremos um Natal digital. Queremos o NATAL DE PRESENTE!

Ricardo Lima

Vamos Juntos. Primeiro as Pessoas!